sexta-feira, 11 de março de 2005

Animal Racional


O ser humano tem uma função: destruir a si mesmo. O fato de sermos os únicos animais racionais tem diversas conseqüências para nós. A mais importante delas é termos consciência de nós mesmos, ou seja, podemos sentar em algum lugar e pensar coisas sobre nós. Podemos pensar que estamos felizes ou tristes, por exemplo. Isso, porque conseguimos analisar as coisas como se estivessem em uma balança, e assim, podemos saber se temos mais coisas boas ou mais coisas ruins. Através desse nivelamento classificamos nossa atual condição. A partir disso, criamos uma expectativa: se estamos bem, queremos manter essa condição; se estamos mal, queremos mudar as coisas. Exatamente essa expectativa com relação ao futuro é que faz da nossa uma espécie eternamente insatisfeita, pois nossa situação presente nunca nos basta. Ou queremos melhorar o que temos, ou queremos garantir que teremos o que temos, no futuro. Essa insatisfação, faz com que estejamos sempre em busca de algo que nunca chega. De um paraíso, um nirvana, um momento de paz que tenha sua permanência garantida pela eternidade. Mas enquanto continuarmos julgando a nós mesmos, não atingiremos essa paz. Oscilando entre a tristeza de estar infeliz e o medo de deixar de estar feliz, estaremos sempre preocupados com o amanhã. Preocupado pode ser decomposto e virar pré-ocupado, o que significa: ocupar-se no hoje com o amanhã. Pensar no futuro nos impede de viver o presente. Jogamos nossa atenção para um lugar e tempo fictícios e esquecemos um pouco do que estamos fazendo no agora. Mesmo com toda a tecnologia que o homem já atingiu, acredito que ainda não se tenha revivido o passado ou presenciado o futuro. Continuamos vivendo no presente. Toda a natureza funciona em harmonia. Todos os seres formam um ciclo que se completa de forma auto-suficiente com uma “perfeição” que impressionaria até mesmo o computador mais moderno. Mas como dizem que nada é perfeito: justamente o ser que, aparentemente, seria o mais capaz de todos (ao menos o mais complexo), tenta quebrar este ciclo. Por se imaginar tão superior, o homem acaba se isolando do resto do seu meio, de forma a não se inserir mais no mesmo. Acabamos nos tornando uns extraterrestres em nosso próprio planeta. Afinal, você já imaginou uma abelha precisando de tratamento psicológico por não produzir muito mel? Ou um cavalo que está nervoso porque chegou o dia do páreo final? Será que uma árvore que é menor do que outra que está plantada ao seu lado sente-se muito deprimida? Todos os seres (e até mesmo as coisas inanimadas) são o que são, sem se questionarem porque são aquilo. Levam os seus dias e fazem (ou não fazem) as suas coisas, guiados pelos seus instintos. Nosso tão aclamado raciocínio, faz com que percamos muito tempo pensando, ao invés de agindo. No encaixe natural das coisas, não existe espaço para uma espécie que seja tão instável e transformadora como a nossa. Nós não combinamos com o resto do mundo. Não conseguimos aceitar que somos somente o que somos. Queremos entender o porquê. Se continuarmos sem nos entender, sem achar nossa verdadeira função dentro do ciclo da natureza, e ainda descarregando nossas frustrações, ansiedades e desejos sobre o nosso meio. Acabaremos nos predestinando a sermos uma espécie temporária. Um grupo de indivíduos com uma capacidade de criação incrível, mas tão incrível que não podiam viver nesse mundo. Justamente pelo fato de analisar e julgar a si e ao meio à sua volta, puderam, apenas passar um tempo por aqui. Dando uma olhada, mas depois indo embora para não estragar tudo. Pode ter certeza que a natureza não iria criar algo que a destruísse. Então, nossa função aqui na Terra seria simplesmente nos destruir. E se por ventura, conseguíssemos entender a moral de nossa existência? Seria o homem, realmente um ser mau? Será que aquela insatisfação é de fato parte de nossa essência? Você consegue provar, não pra mim, nem pra você, mas para o mundo como um todo que você é bom?

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