sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

As coisas, a vela e o vento.

Minha vela acaba, sempre, iluminando mais do que o imaginado. Será o vento que entra pelas janelas? Não sei direito o qué é, mas quando ascendo a vela e abro as janelas tudo muda. Novos ares, novas idéias. O passado está ali: nada mudou de lugar, os móveis são os mesmos, mesmos quadros, mesmas plantas. O presente, como a chama da vela, faz tudo visível, faz eu acreditar na existência das coisas. Mas o vento, ah o vento! Assim como o futuro, o vento não toma forma, não quer ser visivelmente determinável. Ele sabe do poder que tem, não precisa ver a si mesmo pra acreditar na sua própria existência, ele sabe que é vento. Justamente por não gastar forças provando o que é, é que o vento entra janela a dentro. Ele nem olha pra escuridão, ele sabe o que quer. Em meio a tantas coisas iluminadas, confiante como é, vai em busca de quem ilumina. Apesar de ser visível, a chama não é muito determinável, nem um pouco palpável, tem um quê de vento. E é por isso que aceita o convite pra dançar uma canção. O vento impõe seu ritmo porque sabe o que quer. A chama o acompanha com seu charme de mulher. Assim, todas as coisas, ou se contagiam e aderem ao balanço da dança, ou aceitam a inércia da escuridão. Minha casa é o que tenho, é fruto do que já fiz. A chama sou eu que ascendo, pois ninguém fará por mim. E o vento eu deixo vir, pois fiz o que tinha que fazer, acredito no que tenho que acreditar e sei que o que tem que vir, virá. Não adianta nem fechar as janelas, o vento sempre encontra uma fresta por onde entrar.

Tickets